Por que sempre escolho parceiros difíceis? O que a psicologia diz sobre isso?
Você já se pegou perguntando por que, mesmo sem querer, acaba sempre atraída por parceiros emocionalmente indisponíveis, complicados ou que parecem exigir mais do que entregam? Talvez, no início, haja um encantamento — aquela esperança de que, desta vez, será diferente. Mas, com o tempo, o padrão se repete, e você se vê em uma relação que te desgasta, te faz duvidar de si mesma e, no fundo, traz mais angústia do que amor.
Isso não acontece por acaso. A psicanálise nos ensina que nossas escolhas afetivas raramente são conscientes. Na verdade, carregamos dentro de nós histórias emocionais que moldam a forma como amamos e nos deixamos amar. Muitas vezes, sem perceber, buscamos no outro algo que repete um modelo afetivo conhecido — ainda que esse modelo tenha sido doloroso.
💡 Mas por que repetimos o que nos machuca?
Freud chamou isso de compulsão à repetição, um mecanismo psíquico que nos leva a reviver situações do passado na tentativa inconsciente de ressignificá-las. Se na infância o amor veio junto com instabilidade, ausência ou necessidade de provar merecimento, é possível que, na vida adulta, relacionamentos difíceis pareçam familiares, quase naturais.
Além disso, Bion nos lembra que nosso aparelho psíquico é formado pela capacidade de digerir e transformar experiências emocionais. Quando crescemos sem um ambiente suficientemente acolhedor para processar frustrações e inseguranças, podemos acabar buscando no outro aquilo que não conseguimos elaborar internamente.
🔍 Como sair desse ciclo?
1️⃣ Reconhecer o padrão: O primeiro passo é perceber que esse ciclo existe. Observe suas relações passadas: o que há em comum entre os parceiros que escolheu? O que te atraiu no início e como isso se transformou com o tempo?
2️⃣ Trabalhar a autovalidação: Muitas vezes, escolhemos parceiros difíceis porque, no fundo, acreditamos que precisamos “lutar” pelo amor ou “merecer” a atenção do outro. Fortalecer a autoestima significa aprender a reconhecer seu próprio valor, independentemente de estar em um relacionamento.
3️⃣ Tolerar a ausência do caos: Se você cresceu em ambientes instáveis, pode ser que relacionamentos saudáveis pareçam “chatos” ou “sem emoção” no início. Permita-se experimentar relações onde há segurança e reciprocidade, mesmo que isso soe estranho no começo.
4️⃣ Criar novos modelos internos: Winnicott falava sobre a importância de um ambiente suficientemente bom para o desenvolvimento emocional. Se esse ambiente não existiu na infância, podemos buscar agora: através da terapia, de novas relações, de experiências que reforcem o sentimento de pertencimento e cuidado.
5️⃣ Escolher conscientemente: O desejo inconsciente pode nos levar a repetir padrões, mas a consciência nos dá a possibilidade de escolha. O que você realmente busca em um parceiro? O que te faz bem a longo prazo? Nem todo amor precisa ser uma batalha.
🌿 Transformação é um processo
Se libertar de padrões afetivos repetitivos não acontece de um dia para o outro, mas cada passo na direção da autoconsciência e do autocuidado já é uma mudança poderosa. O amor pode ser um lugar de nutrição, e não um espaço de sobrevivência.